Coletivo de aprendizagem de Libras, Sinalizando a Inclusão, busca reconhecimento da cultura surda na Universidade
Por Gabriela Varão*
Entre os alunos de graduação da USP, apenas 0,9% têm deficiência auditiva total ou parcial, segundo pesquisa da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP). Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, ainda não existe uma habilitação na Língua de Sinais Brasileira. Essa realidade inspirou Isabela Gomes, estudante do curso, a mobilizar um grupo de estudos voltado para o aprendizado de Libras. A iniciativa começou, em 2022, com encontros entre amigos para praticar a língua e se expandiu, então, para os estudantes da FFLCH. Desde então, o coletivo Sinalizando a Inclusão (SAI) tem como objetivo promover conhecimento sobre a língua de sinais e dar destaque à cultura surda, com atividades para toda a Universidade.
Para isso, o grupo realiza encontros semanais todo semestre, no prédio de Letras da FFLCH, onde ensinam Libras. Laís Romma, diretora de Recursos Humanos do coletivo e estudante de Letras, explica que a ideia é que as pessoas possam aprender a língua em conjunto e, semanalmente, um conteúdo específico é trabalhado nas reuniões. “Quando você está aprendendo uma língua sozinho, isso é solitário, você acaba praticando um monte, passa uma semana e você esquece tudo porque você não tem com quem praticar. Então, o SAI surge dessa necessidade de praticar.”
A participação é totalmente gratuita e aberta a toda comunidade universitária, alunos, professores e funcionários. “A gente chama os professores porque a gente quer que esse espaço seja da comunidade USP inteira, não só de alunos. Temos um grupo muito diverso”, complementa Isabela. A proposta do grupo, no entanto, não é seguir um modelo tradicional de aula. Cada encontro possui uma dinâmica diferente.

Libras na Universidade
Atualmente, o SAI conta com apoio do laboratório de estudos de Língua de Sinais e Cognição (Lisco), sob coordenação dos professores Felipe Venâncio Barbosa, professor de Linguística com ênfase na língua de sinais; Sylvia Lia Grespan Neves, primeira professora surda da Universidade e docente na Faculdade de Educação (FE); e Fernanda de Araújo Machado, professora surda no Departamento de Linguística com atuação na educação de surdos.

Com apenas duas professoras surdas, a USP não tem um departamento que represente a Libras. “Todo mundo acha absurdo a Letras-USP não ter uma habilitação em Libras. O SAI começou a partir disso”, pontua Alêtsia Beatriz, diretora de Marketing do grupo e estudante de História.
O grupo ainda não tem participantes surdos, algo que as coordenadoras esperam mudar no próximo ano. “Quando a gente fala de dar inclusão, não é no sentido heroico. A gente não está aprendendo Libras para ajudar pessoas surdas, para salvar pessoas surdas, não é isso. A gente aprende Libras para se comunicar com a pessoa surda, para integrar aquela comunidade”, enfatiza Isabela.

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A idealizadora do projeto também destaca que existem diferentes formas de caracterizar a surdez. A pessoa surda é aquela que se comunica por Libras e faz parte da comunidade surda. “Tem dois modelos, um modelo médico e o modelo social. O modelo médico vê a surdez como uma deficiência, mas o modelo social vê a Libras como uma diferença“, explica a estudante.
Para atender mais pessoas, o coletivo realiza encontros virtuais, além do projeto presencial. A turma on-line é a única que exige inscrição prévia para participar devido ao limite de vagas. Além das atividades semanais, o grupo promove eventos e debates, divulgados nas redes sociais. Para saber mais informações, é possível entrar em contato com o grupo pelo Instagram. O SAI também aceita novos voluntários que tenham interesse em contribuir com a iniciativa.
Mais informações: @sai_libras
*Estagiária sob a supervisão de Antonio Carlos Quinto